Tenho cancro, e agora?
Afinal Kuruka, não foi surpresa, a nuvem pairava desde Julho.
Mesmo quando te diziam:
- Isso é hormonal, ou uma pré menopausa. Até, isso é normal eu ouvi!!!
Dassssss, a gente ouve com cada coisa! Como se deitar sangue do mamilo fosse normal, normal para quem?
Não me sinto revoltada, até porque perante isto, as pessoas que sabem, acham que precisam ter algum tipo de resposta, ou dizer alguma coisa. Tipo, quando morre alguém, a pessoa sabe lá o que vai dizer... Mas para dizerem este tipo de coisa mais vale estarem caladas, apenas um abraço e estou aqui para o que for preciso, basta! De preferencia, não digam nada nem divinatório, nem médico porque senão forem da especialidade, não vão ter dados cientificos para partilhar com quem está doente.
Agora segue-se uma mastectomia total da mama direita e rezar muito para passar ao lado da quimioterapia.
E não, não quero que me perguntem - Estás bem? - Ou - O que é que tens? - Porque não estou bem e tenho cancro. Falem-me do tempo ou façam me rir com parvoices, tratem-me como normalmente me tratariam. E se não falavam comigo antes, também não o façam agora, vai soar a hipócrisia, e eu só tenho cancro não fiquei nem santa, nem burra!!!
Eu já estive desse lado, muitas mais vezes do que eu gostaria, e sei que nunca por nunca se deve roubar a esperança de ninguém. Sei que muitas vezes o que a pessoa precisa é purgar, deitar cá para fora o lixo, e muitas vezes é só isto que é necessário, alguém para ouvir, sem dizer nada, sem tentar encontrar respostas, ou dizer AQUELA frase especial. A maioria só precisa de alguém que as ouça! Alguém para lhes dar a mão! Sei que quem está do lado de fora tenta aconselhar ou dar bitaites, muitas das vezes só para não estar calada, e eu fiz isto vezes de mais. Agora deste lado, apesar de entender que quem o faz, não o faz por mal, fá-lo vezes demais! Nós damos bitaites da vida das pessoas, como se tivessemos esse direito gratuitamente, como se vivessemos as suas vidas e como se soubessemos mais dela do que elas próprias, e eu também fiz isso demasiadas vezes.
Agora com essa consciência eu digo que CHEGA! Ninguém vive a minha vida, ninguém sente a minha dor, ninguém sente o que eu sinto, ninguém vê o que eu vejo. E eu não vivo a vida de outras pessoas, eu não posso saber o que sentem, porque eu não sou elas, mas posso estar lá para ouvir e para dar a mão quando for preciso.
Nunca tinha entendido isto, até chegar aqui!
Kuruka