Driblaste a morte vezes sem conta, eu dizia sempre não vai, não vai porque o amor fala mais alto, e que amor este. Hoje foste embora, mas deixas muita riqueza, mostraste sempre de que garra eras feita, 10 filhos e se as contas não me falham 33 netos e bisnetos. Deixaste um amor maior que todos os amores, uma sabedoria e aceitação que nunca vou conhecer, os tempos são outros. Vou trazer muitas coisas tuas aqui dentro, as cartas no aniversário, quando ralhavas para não engordar os porcos, a paciência que tinhas para nos aturar nas férias, o arroz de galinha. E o sorriso. Mesmo quando a memória falhava tu sabias quem eu era a maior parte das vezes. Trago comigo a maior aprendizagem de todas o amor, que partilhaste com o meu avô sempre juntos, unidos e sempre um a viver para e pelo outro. Obrigada avó por teres sido também minha.
Driblaste a morte vezes sem conta, eu dizia sempre não vai, não vai porque o amor fala mais alto, e que amor este. Hoje foste embora, mas deixas muita riqueza, mostraste sempre de que garra eras feita, 10 filhos e se as contas não me falham 33 netos e bisnetos. Deixaste um amor maior que todos os amores, uma sabedoria e aceitação que nunca vou conhecer, os tempos são outros. Vou trazer muitas coisas tuas aqui dentro, as cartas no aniversário, quando ralhavas para não engordar os porcos, a paciência que tinhas para nos aturar nas férias, o arroz de galinha. E o sorriso. Mesmo quando a memória falhava tu sabias quem eu era a maior parte das vezes. Trago comigo a maior aprendizagem de todas o amor, que partilhaste com o meu avô sempre juntos, unidos e sempre um a viver para e pelo outro. Obrigada avó por teres sido também minha. Até já
Ontem olhaste para mim e com o teu miar baixinho, me perguntas não vais "sofázar"? Ontem eu olhei para ti e respondi-te queres que vá para o sofá, não é?
Não fui... E hoje tu já não estavas.
Tu foste para lá, onde um dia te vou reencontrar.
Chegaste num dia de temporal, com o pêlo encharcado e suja de óleo, o teu corpo era ossinhos e os teus olhos eram mel, miavas e mal se ouvia, como se não quisesses incomodar, enroscavas-te nas minhas pernas e quando me baixava deitavas-te como um cão de barriga para cima, adorava festas na barriga. Foste tão meiga e trouxeste tanto amor, pegava-te e o meu coração ficava cheio do teu amor. Deitavas-te comigo no sofá, enroscada nas minhas pernas, nem te mexias para que eu nem notasse que ali estavas. E deste tanto na tua gratidão de saires da rua, de teres um prato de comida e uma cesta para dormir, não te roubamos a liberdade, mas era nossa a nossa, até um carro te roubar de nós. Hoje a manhã começou triste, pobre e numa mistura estupida de perguntas.
Fazes me falta e ainda agora te foste embora!
Não te queria perder, não desta forma, não já, porque foi tanto o amor e durou tão pouco tempo. Tivemos tão pouco tempo.
Minha Noah, ficarás aqui no quente do meu coração eternamente. Obrigada por todo o teu amor, pelas lambidelas e por me procurares para ir para o sofá. Foste o meu mel.
Saudades da leveza, da facilidade em mexer-me, em pensar, em comunicar.
Saudades da alegria, do sorriso fácil.
Saudades do, que delicia, soube-me mesmo bem, estou mesmo satisfeita.
Saudades da satisfação em sentir o calor do sol na pele, ou o arrepio de frio com o vento que me apanhou.
Saudades das ideias, da criatividade, da vontade em criar.
Saudades do fazer, do por as mãos ao trabalho, de fazer acontecer
Saudades das pernas leves, da força no peito, de respirar fundo.
Saudades dos abraços apertados e do amor que nos une a carne.
Saudades do pensamento rápido, das escolhas ou simplesmente poder escolher.
Saudades de não ter limites, poder ser, ter e fazer o que me dá na real gana.
Saudades em estar no silêncio, na quietude porque é uma escolha
Saudades da confusão sem medo que me toquem
Saudades de correr, saltar, de caminhar direita
Saudades de me espreguiçar, de alongar todos os meus músculos sem medo de rasgar a pele,
Saudades de dormir de barriga para baixo, ou de lado sem medo de me tocar.
Saudades das gargalhadas das minhas e das que eu provoco nos devaneios de boa disposição.
Saudades de me deitar ao teu lado sem pensar no sítio que não podes mexer, ou tocar.
Saudades da minha pele, do meu corpo, da minha força, da minha energia.
Eu sei que ainda aí estás, apenas estás a adaptar-te a esta fase, eu sei que vais voltar, também sei que há coisas que não voltam, mas quem és ainda aí está!
Não há homenagem, prémio, louvor ou palavras que eu possa escrever ou dar, que mostrem o tamanho da gratidão que sinto.
Não foi demonstrado todas as horas, até porque à mistura houveram outros sentimentos, a revolta e a exaustão. Mas foi sentida, é sentida em cada palavra de conforto, em cada partilha de cuidado ou preocupação.
A minha profunda gratidão vai para aquela equipa de enfermeiros e auxiliares que cuidaram de mim e amenizaram ou tentaram amenizar o meu desconforto a cada hora dos meus muitos dias. Vai para eles o meu mais profundo obrigada, eles que têm um amor autentico pela profissão que escolheram abraçar, trago o nome e o carinho de cada um de vós dentro do meu peito, e nunca me vou esquecer das partes boas, das gargalhadas, private jokes e dos momentos muito maus que viraram anedota, o resto eu não quero lembrar!
E quero agradecer à onda gigante de amigos e família que estiveram sempre comigo no pensamento, aos meus pais que foram todos os dias apesar das suas dificuldades me ver, levar o lanche e sentarem se ali mesmo que não dissessem nada, ao maridão e ao filhão que assumiram com uma brutal leveza o comando do barco, à família, tias, primas pelos mimos e por não me deixarem faltar nada, aos amigos que são a família que escolhemos, por estarem sempre aí, por respeitarem as minhas longas horas ou dias de silêncio, compreendendo muitas vezes, eu sei que não foi fácil, eu não querer nem ver, nem falar com ninguém. Apenas aconteceu para que não tivessem essa memória de uma Kuruka que não sou Eu. Obrigada por me aceitarem nos meus dias menos bons principalmente quando a exaustão me levava à revolta, e mandava tiros para todos os lados. Sempre disse que sou uma sortuda, por ter pessoas maravilhosas à minha volta, pessoas que me querem bem, pessoas que me querem de volta. Esta está a ser, sem dúvida a pior fase da minha vida e assim como nas melhores, vocês estão lá. Mesmo que não seja com a carne, é com o coração e isso eu nunca em dia algum ou em hora alguma eu deixei de sentir.
Não peço desculpa por não ter atendido todas as chamadas, ou não ter acolhido positivamente a todos os pedidos de visita, ou aos 2 dedos de conversa, eu não quis falar repetidamente o que eu tinha, eu quis falar de outras coisas que me levassem para fora de mim, para fora da minha débil experiência. Cansei-me de repetidamente dizer que não estava bem e que as coisas não estavam a correr bem e as pessoas não perceberem isso. Mas também percebo que é muito desafiante para alguém, ver uma pessoa na merda quando a principal imagem que retêm dessa pessoa é a positividade e a alegria. Por isso acredito que tenha sido também um desafio para muitos de vocês.
Eu tentei sempre fazer o meu melhor, mesmo nos dias em que isso não era possível, por isso não há pedidos de desculpa a fazer, apenas há o sentido de gratidão por vos ter, por serem parte de mim, e fazerem parte da minha vida.
O meu enfermeiro preferido, disse :- A sua filha foi muito corajosa!
E eu sinto mesmo que fui, e que sou muito corajosa! Mas esta coragem veio à tona por vos ter a todos a darem-me a mão!
Foi só um pouco mais de um mês, sem o calor do sol, ou o frio do inverno, sem o cheiro da terra, sem ver o mar, sem o barulho da rua, sem um café em chávena fria.
Foi só um pouco mais de um mês e parece que olhava e sentia tudo como se fosse a primeira vez, andar para qualquer lado é ainda um desafio, mas sentir o cheiro dos pinheiros e eucaliptos, ver a erva alta coberta de flores amarelas,
sentir o vento na cara, o cheiro do mar, parece que os estou a sentir como nunca antes senti. Sentir o sabor da nossa comida, sentir o calor da nossa cama e o aconchego da nossa almofada. Sentir o amor dos nossos animais. Chegar à nossa casa! Oh chegar à nossa casa, não sabia a falta que me fazias até não poder estar lá.
Foi só um pouco mais de um mês, para perceber que nada é para sempre e que nada é nosso a não ser o que sentimos, a não ser o que vivemos.
Aprendi a não espectar, foi outra das coisas que aprendi nesta condição.
Mas tinha tudo para sair, até o sol brilhava após dias de frio e chuva.
Perto do meio dia a Dra entra, -vamos?
O penso sai, e eu não olho, não quero ver! Muitas afirmações positivas, como uma boa irrigação, até está bem, e fazer tudo de novo, alguns acertos quanto ao passo a seguir, e - Vou-lhe dar alta, vai para casa com a máquina e volta quinta feira para o penso, se fizer febre vem, se inchar, vem se estiver com sinais inflamatórios vem, se a máquina parar vem, se descolar o penso vem.
Eu venho, mas por agora vou, cheirar o cheiro da rua mesmo que seja de poluição, sentir o frio na cara ou o calor do sol na pele, dormir sem cheiro a fezes e mijo, sem ouvir ressonar, não sentir olhos sobre mim cada vez que me mexo para fazer alguma coisa, falar sem que ouçam as minhas conversas. Comer o que me apetece e não o que me dão, ter uma televisão onde eu possa mudar o canal e ver o que quero, ouvir o barulho da rua e não tomar mais medicação.